Joãozito e a estrela guia – um conto de Natal

A visão era de pasmar!

Todos aqueles camelos ajoelhados, esbarrando nas coloridas e luxuosas túnicas de seus reis.

Joãozito, do alto da corcova de seu camelo, a dois metros e meio do chão, esfregando os míopes olhos, via que o deserto não era vazio, não!

E, até onde mais o pescoço espichava, ia contando o que via, aos seus incrédulos e resignados irmãos, que o seguiam a pé.

Sâo reis, sim e mais de três…”

Então não é que o Morro de Bento Velho justo faz fronteira com as Arábias! Só podia!

Desde lá atrás, longínquo, descendo o morro, via em miragem, naquele areal cintilante, liso imenso do deserto, um grande borrão, mas isso podia ser um truque de suas vistas.

Seus óculos estavam emprestados ao camelo, que, como ele, também era míope, mas apenas fora do deserto.

Passada a linha divisória terra/ areia, na aproximação, o borrão se decompunha em muitas manchas, que logo se transformaram em gentes.

Sua mãe e avó, Chiquinhas, penduravam tapetes coloridos num baobá e com força os batiam para tirar o pó de areia.

Os reis, ora dormiam, comiam, jogavam dados e alguns três escrutinavam os céus, com mapas e engenhosos instrumentos.

Agora recostados nos dorsos da camelada ruminante, os irmãos de Joãozito disputavam cuspes, ao que as Chiquinhas desérticas nem ligavam.

Então, era a vez das histórias e tinha aquela das miragens dos oásis, que Joãozito gostou demais, porque isso sempre também acontecia com ele quando via coisas; a do profeta Zaratustra que tinha nascido de uma planta e de um anjo e que quando nasceu riu tão alto que espantou os espíritos maus.

Aí, o trio de magos começou a falar sobre astros e desenhos no céu e a apontar a estrela guia que seguiam para encontrar o menino que estava no presépio do outro lado do deserto, nas bandas do Morro de Bento Velho, que era justo na casa de Joãozito.

Foi quando aqueles outros de turbantes desbotados e bêbados, começaram a empilhar suas moedas e logo camelos com máscaras assustadoras saíram a fungar com seus bafos insuportáveis e a acossar o camelo de Joãozito. Preparavam uma rinha tremenda entre camelos, abrindo apostas.

Com os dentes à mostra, bufando, dois camelos aproximam-se de Joãozito. Este recua, até que compreende que será impossível fugir, porque  seria trucidado pelas costas. Joãozito não sabe que fazer.

Seu animal é campeão em passar dias sem beber, em percorrer as mais longas distâncias, em receber com gratidão o açúcar da mão do seu amo, em aconchegar Joãozito nas noites frias do deserto, mas não possui espírito de luta. Sua natureza é fugir das encrencas. E agora não é mais possível. Os dois camelos bufam e batem com as patas o chão; treinados para o combate até o final, tornam-se ainda mais sanguinários quando compreendem que a vitória e morte do terceiro camelo será uma tarefa fácil. O camelo olha para Joãozito com desesperança, despedindo-se para sempre.

No alvoroço que se formava, as Chiquinhas energicamente recolheram as moedas, jogaram água nos camelos, que há muito não bebiam e tudo se acalmou.

Ao som de uma música mansa, entoada por um cantor de turbante cor de anil, com pedras de vidro coloridas, o acampamento adormeceu.

É alta noite e há aquela estrela brilhante. Joãozito acompanha com seu camelo os três que precisam seguir viagem e fala com eles fluentemente na língua de magos, inventando joãozitas histórias que alegram a jornada. 

Nas histórias de Joãozito há animais vistos e ignorados pelo homem, deuses e bruxos, guerreiros que lutam sem piedade e que choram de emoção porque conseguiram a vitória, há massas de desesperados seguindo ou fugindo dos exércitos, há bruxas e magas, há impuros queimados na fogueira, sua mãe que se aproxima da sua cama na noite tórrida para dar o beijo de boas noites, há cientistas, artesãos e médicos, um deles da Pérsia – Joãozito quer ser como ele -, infalível na cura e no diagnóstico, há épocas e o passar fugaz do tempo, há morte, luto e lágrimas, alegrias selvagens e ferozes, raros momentos de plenitude na vida antes da chegada da morte, todas as navegações, todas as existências com os naufrágios e sucessos, há o sorriso de uma criança, há línguas amigas e estranhas que aprendem com fervor, o amor, há o esconderijo embaixo do balcão da quitanda do seu pai e os relatos dos vaqueiros que um dia irá transcrever, as narrativas de ódio, a lembrança do Natal durante a guerra e do Natal em países alheios.

Há o desejo profundo de paz para todas as pessoas.

Em fim.

Há toda a poesia deste mundo.

Segue feliz e altivo, pois já sabe aonde tudo vai dar, guiados pela estrela.

Ao acordar, Joãozito corre para o presépio e os três magos, primeiro chegados, ofertavam seus presentes ao pequenino menino.

Joguiro*

JOGUIRO dormia e sonhava. A réstia de luz que já penetrava entre as tábuas, mostrava que ele também sorria. Não era para menos: achava bondosamente engraçado aquelas formigas cruzarem o velho tronco. para logo retornarem com as folhas em fardos verdes às costas, repisando a tora, ainda que a terra toda ali era um folhado verde.  Pôs-se a seguir aquela fileira, cumprindo, rigorosamente, o modelo ancestral que as formigas, indiferentes, esperam que suceda. Elas seguiam kilometricamente até desaparecerem nas entranhas de uma grande pedra. JOGUIRO, todo crispado instinto, tomou de uma varinha para escarafunchar aquele reino formigável, mas resolveu que não; e, sentado na pedra, pôs-se a chispar o chão com a vara. Ele sonhava livre e a réstia de luz ia tocando suavemente seus ombros em frêmitos sutis. JOGUIRO não viu de onde apareceram aqueles homens sujos e esfarrapados que estavam à sua volta e o encaravam com olhos duros. Esperavam dele alguma coisa, uma única possível. Resoluto, alçou uma vara em brado mudo e assim, posto chefe, o grupo debandou em missão. Gotas de suor brilharam no rosto de JOGUIRO que, dormindo, braço em riste, sonhava. Ao levantar-se da pedra, reparou que um do bando restara e o encarava firme, sendo, os olhos, folhas verdes cortadas. JOGUIRO, de pronto, estendeu-lhe a vara para, incontinenti, abdicar daquele comando fátuo. O outro deslizou a vara ao chão. JOGUIRO arrancou uma touceira de florzinhas roxas e a ofertou. Deitaram sobre a pedra que rolou, rolou, esmagando as formigas e todo o reino formigável. JOGUIRO, terrivelmente febril, sentou-se à pedra e pôs-se a escrevinhar em largas fibras os últimos acontecimentos. Estava já em outro lugar, transposto, perto de águas. A base de pedra, salpicada de musgo fresco e sementes coloridas, era úmida, sombreada por imensa árvore. Juntou os grãos em montinhos de três, com propósito, enquanto estandartezinhos verdes desciam-subiam do tronco enfurnando-se na grota de pedra, a seus pés. JOGUIRO dormia-sonhava e, à luz plena da manhã, via-se que sorria de lábios descolados, talvez fosse gargalhar. Tudo seria.

* JOãoGUImarãesROsa

Hai-kairana – Hai-kais roseanos

                                                                                          Trigal! Choupanas!                                                            clamam meus                                                                 cansados olhos planos

             ∞                                                                                                      No férreo lamaçal                                                                       a alma dos pés                                                               deambula

[“E correm conquistas, entrou outubro, multidões vão cain­do. Márion, tenho novidade… De setembro, 18. Outro cartão, a lápis: … E o pior é ter de avançar, dias inteiros, pela planície que nunca termina. Meus olhos já estão cansados. Raramente enxergo um trigal, choupanas. Chove, e a lama é aferrada, árdua…”]  O Mau humor de Wotan

 

Makita narra Cipango

a Makita, in memoriam

Makita é um pássaro um conjunto de penas envolvidas por um corpo      aparentemente frágil esvaziar a mente… Makita percorre a academia   a passos largos, inverossímeis para o tamanho do seu corpo…  a morte é doce quando se morre pela pátria, de desejos, de pensamentos…  sobretudo de pensamentos.. ocidental pensa muito Makita faz as contas vertiginosamente e as escreve rapidamente em um papel que passa para o copiloto, os corpos já estão aquecidos Makita conduz o katá número um todos participam amanhã  a missão há soldados e bandeiras todos gritam vivas ao imperador termina  a sequencia de golpes de cotovelo e Makita passa para o katá número 2 é a vez de Makita há um discurso de um general Makita pensa na vida depois da morte está envolvido em uma bandeira do Japão parte a primeira tripulação termina a sequencia de defesa da braços já estão no quarto katá quer mesmo morrer pelo imperador Makita se responde que é mil vezes melhor morrer em combate que capitular frente ao inimigo no último katá há uma série complexa de movimentos de defesa e ataque combinados participam somente os alunos avançados o grupo de Makita recebe mais uma bandeira do Japão karaté pacífico não de luta e sim de superação espiritual, aprender a usar o corpo como arma a e ao mesmo tempo a não se servir jamais dela o piloto dá partida Makita é o navegador é muito jovem tem sessenta anos  voa de um lado ao outro do salão da academia finaliza o último katá a aula termina vão até a bar tomar somente uma cerveja bebe água Makita antes de embarcar, o motor rosna e para vem o mecânico vem o senhor Sakamoto com um molusco de aperitivo para combinar com a  cerveja, 

O rosto da desonra essa dança de mulheres que os americanos denominam de luta deixar de lado o caratê um dois é o aquecimento depois vem a luta luta? as pernas dançam não permanecem fixas box uma luta covarde japoneses treinando box a cara de desonra. 

Caminha Makita pelo centro de Araçatuba pensa dez anos de agricultura Brasil país pacífico onde educar e ver crescer os filhos lembra Makita do último voo da academia de caraté em São Paulo da guerra da morte dos seus pais nos ataques com bombas incendiárias da raiva pelas  mortes da população civil dos seus pais do campo em que esteve confinado após a rendição davam comida obrigado pais pela educação que me deram porque sabia inglês e karaté naturalmente foi o escolhido pelos americanos para ensinar… box o sentimento da desonra pela imposição do box o futuro será a agricultura na chácara que acabou de comprar na região uma aposentadoria feliz trabalhando a terra militar aposentado como leram para ele no círculo de leitura da biblioteca da cidade a aposentadoria de Riobaldo um jagunço palavra difícil como ele também aposentado Rosa escritor importante do Brasil.

Avaria diz o mecânico em japonês, não conserto hoje, precisa de várias horas de trabalho para voar novamente o comandante da base pede outro avião com o molusco vem iscas de peixe cru não há nenhum porque todos foram usados nas missões do dia.

A partida da missão de Makita se posterga por 24 horas. No dia seguinte o Japão se rendeu e terminou a segunda guerra mundial.

Makita conta sua história por enésima vez – parece um sonho, pensa pensa: nunca mais vou ter dezenove anos, nunca mais estarei disposto a morrer assim pelo imperador e pela pátria. 

Os homens e mulheres precisam – preciso – de paz.

Caratée… pacífico.

As batalhas do soldado Rosa

Na finitude da planície
Valquírias cavalgam
Plenitude do avenir

Rastejo faz dias semanas? perde-se a noção do tempo na batalha o Escritor chega prepara suas emoções entro no cemitério no sul da Itália surge um soldado alemão miro nele mas desaparece e volta na companhia do seu pelotão que se protege atrás do muro de uma casa abandonada o Escritor permanece em silêncio permaneço em silêncio escuto sua voz desde esta maca suas palavras me acariciam e reconfortariam se fosse possível a resignação depois de perder as duas pernas e o braço direito uma mina acaba de explodir e de levar a vida de Luiz meu amigo camponês como eu de Minas como eu e como o Escritor me aproximo de um dos túmulos fica em silêncio pensa são os obuses que acabam  com nossas almas agora nos comunicamos o Escritor está perto no cemitério brasileiro onde vou parar em breve um grupo de pássaros cinzas antecipam os urubus pretos rastejo e rastejo a morte é indiferente a dos alemães sobre tudo a minha seria um alivio pensa o Escritor nos seus meus últimos tempos não conheceu uma comida quente nem o amor de uma mulher Rosa se concentra e conversamos não quero não posso perder a voz escreve um conto sobre dois soldados eu já morri mas tudo é muito recente e minha alma atormentada continua relatando Rosa fala para que Rosa escreva minha história do soldado Rosa narrada pelo Escritor Rosa Rosa já conhecia Rosa da fazenda foi um encontro antes da guerra e não depois eu Rosa estava afastado ensinando uma vaca não ter manhas como Rosa ficcionou sempre fui calado isto sim morrer é doloroso mas rápido quando se trata de uma mina meu caso no primeiro encontro eu ainda não era soldado no segundo também não porque havia morrido por que não me deixaram morrer no campo de batalha por sorte vou morrer no hospital de campanha rapidamente escreve Rosa porque as amputações não conseguiram vencer a gangrena e é melhor porque a morfina está acabando e ninguém sabe quando chega uma nova remessa pensa Rosa que também é médico se emociona escutando minha voz outro obus destrói o rosto do soldado mais próximo e deixa uma máscara de horror no seu lugar uma mina destroça seu estômago avançamos inutilmente como inúteis são os fuzis com que tentamos enfrentar o inimigo que conta com recursos armas e número de homens superiores da guerra que foi o que mais o impressionou o próximo projétil é para mim sabe Rosa sabe Rosa sei o frio e os alemães são destemidos? fica em silêncio fico em silencio verdade que são tão corajosos sim com as mulheres os velhos e os soldados indefesos que já se renderam a comunicação já dura vários dias e Rosa termina seu conto sobre os dois soldadinhos mineiros na verdade um só Rosa eu  também  Rosa e Rosa o soldado da palavra não consigo ficar mais tempo chegou o momento da despedida tenho outra missões e tarefas a cumprir Rosa compreende Rosa compreendo Rosa volta a seu carro Aracy entra no veículo Rosa chega e senta no banco do passageiro Aracy fuma e dirige ela dá partida mas o carro engasga e não funciona não vai embora me detenho um momento antes de sair  para outras dimensões sorrio e digo até breve Rosa e a seguir na quarta tentativa o carro dá partida e avança antes de que se percam os olhos com certa nostalgia lembrando meus dias e noites nesse planeta. 

Um dia o tumulto das vozes se acalmará e finalmente haverá paz.

Hai-kairana – Hai-kais roseanos

 

João Encantado      

Em luz,
atrai a borboleta ao pescoço,
próprio de si

Ondula prata
sobre pedras, veios sombreados,
oh!Veredas!

Pontilhado luzidio
de passos
o rastro acende um céu

Asas pousadas
em cacho brilhante:
luzeiro assoma em buriti!

Na terceira margem
Rio infinito
Kamikases meditam

                                                                           ∞

Encontro

no barco deslizante
os meninos nada sabem
dos sedimentos em águas de rio

Eu, Subles

 

Alguém tira o cadeado. A porta metálica gira sobre seus goznes oxidados – faz um barulho infernal. Uma corrente de metal se desliza e bate contra a porta também de metal. Entram dois homens do tamanho de um armário duplo cada um. Uma luz amarela e pálida, como os habitantes dessa cadeia ou seus captores, se acende em algum lugar que não identifico.

– Chegamos a la luna, comunista hijo de puta!!!

Lembro que lembro que estou preso na Argentina, a mercê dos carrascos, e quero responder que filho da puta tudo bem, mas que é um erro se identificar com o suposto sucesso dos EEUU porque os interesses deles não coincidem com os nossos, eles querem somente nos explorar…

Não dá tempo. Já me havia dado conta de que os armários não desejam o diálogo, não escutam, só perguntam, a discussão armários/presos políticos ficará para uma próxima encarnação.

Tento dormir novamente, tenho frio. Há barulhos de metais contra metis ou contra corpos, uivos desesperados, risos de prazer dos torturadores, aletear de pássaros noturnos, trovoadas e o som persistente de uma chuva fina. Por que estou preso e sem água nem comida na Argentina em 1969 se deveria estar aqui, em São Paulo, trabalhando com literatura ou usufruindo dela. Sonho: É que estou em uma novela gótica, sonho que penso, mas em seguida me corrijo, falta o miar do gato anunciando a horror, portanto não há novela gótica. Sonho que estou na casa que alugava na Ilha Bela quando era jovem e estar no mundo era um prazer infinito. A porta se abre novamente com estrépito. Os armários me entregam um telefone fixo  – parece mentira, mas em 1969 não havia celulares;

– É para que te despidas de tua gente- esclarece um dos armários, Antes de sair e aproveitando que já estou no chão, o outro armário me dá um chute nos rins. Depois me deixam sozinho. Evidentemente não vou usar o telefone – em 1969 não havia celulares, mas sim escuta telefónica.

Acordo bruscamente banhado em suor frio. Não há 1969 nem lua nem estou em prisão e sim na cama do meu quarto na minha casa. Preciso falar com Andrés, há algo muito importante que me esqueci de dizer. Onde estou, quem sou, me pergunto. Faz muitos anos uma garota disse que eu era pouco prático, excessivamente subliminar. Vou te chamar Subles, disse e pegou: em poucos meses todos no colégio me chamavam Subles. Na Divisão de Fronteiras onde trabalho somente me conhecem por Subles

Acordei porque o telefone fixo de minha casa está tocando. Viro para o outro lado mas não vou conseguir dormir mais.

Levanto, Atendo o telefono, digo aló.

Me responde um murmúrio arrastado e uma vozeria em uma língua que não existe.

Subles? Pergunta uma voz desconhecida, impregnada de um sotaque que não consigo localizar. É um homem jovem

Subles? Repete.

Pois não.

Está bem?

Sim , por quê?

Por nada, ligamos por verificação. Nome da mãe do pai irmão cpf  rg e data de nascimento.

Tudo junto?

Silêncio,

Repondo o interrogatório porque algo me diz que uma negativa seria pior.

Bem a segurança já foi efetuada. Vamos ligar de novo, no máximo até amanhã. Esteja preparado.

Cheguei a perguntar que significava estar preparado mas a voz desapareceu, Escutava-se uma espécie de call center de todas as línguas, das quais consegui entender apenas algumas palavra soltas. A Babel das Línguas, O Grande Sertão, o call center dos meus pesadelos.

Acordei e tomei café.

Abri o celular e liguei para três ou quatro amigos. Estava muito inquieto, precisava conversar. Tive uma ideia. Minha secretaria eletrônica havia registrado o número do call center.

Liguei. Me atendeu uma voz também jovem de mulher.

Recebi uma ligação, estou retornando.

Nome?

Subles

Subles?

Sim.

Obrigado por esperar. Está na lista de espera. Falta pouco para chegar sua vez. Teve sorte.

Por qué?

Havia somente um Subles. Você.

Meu telefone não funciona mais.

Não é isso.

Que é?

Tenho aqui registradas as pessoas para as quais ligou, Não vão poder atender.

Por quê?

Estão aqui conosco.

Quero falar com eles.

Não entendeu? Estão aqui conosco. Já chegaram.

Me dei conta. Perguntei: Nunca mais?

A voz desligou.

Meia hora depois o telefone tocou novamente.

– Subles?

Sim. O vozerio na linha era literalmente infernal.

Já saiu o grupo de aqui. Estão na rua.  Em poucos minutos iremos a buscá-lo.

O audaz Navegante

Minha partida a muitos confundiu. Lenços enfunados, amante devastada, sentida.


Mas não.


A Aurora-deusa desperta meus sentidos nesta manhã. Ecos distantes de voz brejeira tomando-me o leme para perder-me, sem rotas, ao sabor das ondas, por muito tempo. Recordo.

Exceto o farol, que sempre esteve ali, tudo o mais foi desvario.

Águas sem antiguidade, em bel prazer de encapeladas ou bonanças, ora fincando-me ao mastro, coração na boca, ora espiando-me sentado na borda da nau, contemplando um albatroz.

Poseidon soberano, a tudo permitia, curioso do ímpeto que fazia a um intrépido atravessar seu reino.

Quando estourou o motim, a maioria estava bêbada e o capitão desfalecido foi içado ao mastro,logo rodeado pelos corvos.

Horrorizado, esgueirei-me, fazendo-me trôpego na barafunda maruja e, sob as lonas encarquilhadas, manejei as amarras, resgatando o capitão, inteiro revivido e irado.

Julgamento sumário, aprisionados os desordeiros e incontinenti deixados em terras de ninguém, nus.

A moça do cais de Anastácia enfeitiçou-me, ninfa enviada por Poseidon para turbar-me. Dias, semanas, meses, não sei ao certo, de delícias, escravo inteiro. Aqui, este meu braço estibordo tatuado para sempre: um coração flechado com nossas iniciais.

Os náufragos que recolhi, suas histórias febris; os negociantes de voz estelionatária; os contrabandos; as rixas por jogo, por mulher, por cordame, por isca, por bebida, por qualquer trunfo à vida embrutecida, de abandono.

Carcaças de peixes por onde tropecei e me quebrei, cumprindo quarentena em talas rústicas de madeira e ataduras de trapos de velame esgarçado, a dor contínua domada por disciplinada embriaguez.

A pérola rosa que encontrei, trago comigo e o que me vale.

Minha pele queimada, mas não ressequida, besuntada de gorduras. A envelhecida cicatriz na coxa.

O ardil contra mim tramado no velho ancoradouro e que o menino me revelou em troca de minha história, a começar pela tatuagem, não a do coração flechado, mas a da caveira. Sobredei-lhe minha faca.

O azimute imutável, horizontal, estire-me eu de bruços, sob o sol, ou de costas, ao luar, nos longuíssimos dias e noites de águas e céu.

As oferendas lançadas ao convés, flores,folhas, ramos, gravetos, moedas, grampos, fitas, gosmas, cuspes, navio estrombótico, todo mensagens. Todas colhi, generosamente.

Avistei por de longe o fabuloso rio de três margens, com pontinhos longínquos de pessoas acenando a um nada.

Anotei as histórias mirabolantes dos velhos marinheiros, todos próprios de si, orgulhosos de suas vilezas e feitos. Traçaram-me com os dedos a cartografia dos ventos.

Perambulando nas ruelas de escadas de Zaíra, cidade da memória, em companhia do capitão, entrei em transe absoluto, assombrando os pescadores com as revelações heroicas de meu remoto passado e profecias ininteligíveis.

Abaladíssimo após o torpor, cambaleei até o navio sentindo-me extraordinariamente cansado e velho.

No Diário de Bordo, a passagem por essa fantástica cidade registra apenas as suas singularidades e as de seus habitantes. Mas é no Livro Reservado das Expedições, que vem transcrita a minúcia do acontecido, em páginas cuidadosamente lacradas, após o capitão revelar-me imitando minhas próprias palavras emocionadas, o que, transido, eu delirara em praça pública, arauto do destino que me coube seguir, desde sempre.

As cartomantes dos becos portuários louvaram minhas linhas, vendo nítido o deus soberbo que me protegia. Assim, disseram, eu incólume seguiria, “ao contrário de Flebas, afogado, jovem marinheiro, belo e forte como tu”.

Se e quando eu regressar ao porto inicial, no desembarque total, esférico, ambições esquecidas, farei aprumar novo navio que singre em águas novas as minhas tatuagens.

PÁGINAS LACRADAS

Do Livro Reservado das Expedições – Delírio do Audaz Navegante

Quantas guerras librei, quantas batalhas venci, quantas oportunidades perdi de morrer de morte rápida, no passado de Troia e no futuro das guerras mundiais entre nações inteiras.

Porque não desisti de viver, porque não cruzei o caminho de um obus, de um sabre, de uma baioneta, porque não entrei em um submarino que seria logo afundado – quando os submarinos perdem a batalha, eles também são afundados? Mais ainda? Ou, pelo contrário, feridos de morte voltam à superfície pensando que dela nunca deveriam ter saído? Como se sabe quando um submarino é derrotado?

Como se sabe quando termina esta vida, minha última reencarnação de acordo com os vaticínios da adivinha?

Desde este lugar do mastro onde estou amarrado, vejo luzes de cidade ou miragens úmidas, onduladas, de buritis, pássaros, bois e gente forte, belezas ásperas do majestoso Grande Sertão, – singrado e abarcado pelo audaz VIATOR, preferido de Cronos, – mais real que qualquer das realidades, vejo a extensa praia de onde, por Poseidon, parti eu, também um audaz, que fez a guerra de Troia, e venceu, que combateu os persas  e venceu, que combateu os povos da Índia e venceu, que combateu mil motins, outras mil revoltas e venceu, que foi parte da escolta de Alexandre e do César e com eles conquistou o mundo conhecido, deixado pelos deuses para usufruto do homem e, como mais ninguém, posso ouvir agora, o Canto das sereias sem sucumbir, esperando em breve livrar-me o Amanhã”venceu, que combateu os povos da Índia e venceu, que combateu mil motins, outras mil revoltas e venceu, que foi parte da escolta de Alexandre e do César e com eles conquistou o mundo conhecido, deixado pelos deuses para usufruto do homem e, como mais ninguém, posso ouvir agora, o Canto das sereias sem sucumbir, esperando em breve livrar-me o Amanhã”

O Trem de Hans Helmut

Há uma fresta entre as tábuas. Por ali se filtra uma luz laranja que às vezes estende uma imagem invertida na parede oposta. Hans Helmut abre um olho, se estica, abre o outro olho. Sente duas respirações, a de Albertine 1 agitada, entrecortada, deve estar sonhando ou tendo um pesadelo. A de Albertine 2 é calma, acompanhada de um sussurro que não chega a ser ronquido. Hans Helmut se sente a pessoa mais feliz do mundo. Estou feliz, articula o pensamento, primeiro em alemão, em seguida em francês. Ele sempre quis estar na cama com duas mulheres, desde tempos imemoriais, desde seu duplo Édipo com sua mãe e com sua avó materna que também o cuidava. Pena que Hitler exterminou a psicanálise como prática corrupta e degenerada, e que os psicanalistas emigraram para os Estados Unidos. Desde pequeno, pensa Hans Helmut, achou que devia haver uma organização, uma previsão em assuntos de sexo. Hans Helmut sempre quis participar de uma espécie de orgia organizada, com regras claras, onde ninguém se prejudicasse e todos fossem felizes. Os ciúmes simplesmente desapareceriam pela ausência de função, uma vez que todas as atividades sexuais seriam abertas ou em grupo e a clandestinidade amorosa se extinguiria. O que menos esperava é que suas fantasias se materializassem na França ocupada, no começo da guerra – guerra? – e sem que tivesse que pronunciar palavra outra que “sim” em alemão e francês, nem usar de outro afrodisíaco que o formidável estímulo erótico do uniforme do vencedor – para muitas francesas, irresistível. HH caminhava pelo Jardim de Luxemburgo observando as esculturas pelo puro prazer de receber o sol cálido no rosto e sentir que seus músculos lhe respondiam. Estava tomado por uma sensação de profundo bem estar. A guerra logo terminaria com a vitória da Alemanha, com um custo em vidas ridiculamente baixo. O pacto com a União Soviética estava em vigor e não era possível nem imaginar a derrota de Hitler em Stalingrado, a batalha que matou milhões de pessoas, entre elas nosso herói.

Foram elas que o abordaram no Jardim, e quase imediatamente propuseram ir à casa de campo de Albertine 1, ou Albertine 2, Hans as confundia.

O diálogo na praça:

-Que homem mais elegante! Prazer, meu nome é Albertine.

– Também me chamo Albertine.

– Prazer, sou Hans Helmut, tenente primeiro da Wehrmacht

– E essa Medalha, bonitão?

Hans Helmut fica quase que em posição de sentido.

– Pela atuação em combate! – que combate? pensa.

.- Adorável…!

– Estamos saindo para a casa de campo dela.

– Fica a meia hora de Paris.

-Mas, querido, não temos gasolina,

-Nem comida.

– Você resolveria esses detalhes para nos?

– Prometemos te dar prazer, muito prazer, mais do que jamais imaginou.

Hans Helmut sentiu uma ereção poderosa por baixo da calça do cobiçado uniforme. Seu ajudante conseguiu a gasolina e encheu o tanque do carrinho sem fazer perguntas. Ele mesmo recebeu uma cesta com pão, salame e uma garrafa de vinho do bistrô onde almoçava todos os dias.

Duas horas depois, estavam na casa de campo.

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O problema é o imperativo categórico, pensa HH, de Kant.

E em seguida pensa também que o momento não poderia ser mais inoportuno para lembrar-se da Filosofia.

O trajeto até a casa de Albertine 1, ou 2, foi demorado. Pelas estradas circulavam tanques e outros veículos militares que tinham prioridade na passagem. No fim, estacionaram o carro oculto numa mata, uma das Albertines tinha marido ou noivo, HH não entendeu direito, que havia sido mobilizado. Sentaram à mesa, comeram e beberam metade do vinho. HH tomou pouco, não queria nada que alterasse a energia que iria precisar. E agora, disse uma das Albertines, você senta nessa poltrona, frente ao sofá onde vamos ficar as mulheres.

É verão, faz calor, as Albertines parecem desejosas de tirar toda a roupa. Antes de ficar nuas, diz uma delas, as caricias.

Começam com suavidade. Uma vitrola toca Os anéis dos Nibelungos de Wagner; depois, Strauss. À medida que o tempo transcorre o ritmo torna-se agitado, frenético – as duas, antes sossegadas, estão agora inquietas. Alternam-se nos malabarismos do amor, uma saboreando o gosto da outra. Uma delas mostra um pequeno consolo que passa a utilizar no ânus da outra. Arrancam a roupa. As duas não se soltam, em um êxtase de mãos, línguas, abraços, gemidos e às vezes gritos de prazer.

No começo HH ficou muito excitado. Mas agora, depois de um tempo de não receber atenção das mulheres, começou a sentir certo cansaço, desinteresse. Foi pelas brechas de essa diminuição do desejo que Kant apareceu. HH estudou Kant e toda a filosofia alemã na escola. Não estudou nunca filosofia francesa, por exemplo. Não conhece Sartre, porque é francês e porque ainda não escreveu a parte principal da sua obra. Sartre foi soldado, não escreveu por enquanto sobre a ocupação alemã que HH protagoniza. Em contrapartida HH sabe sim o que é o imperativo categórico. É o imperativo categórico que o leva a pensar na sua mulher, grávida, que o espera.

A solução é incorporar sua esposa grávida à orgia.

HH segura delicadamente sua mulher por trás em quanto sussurra palavras no seu ouvido – você vai ver, você vai gostar.

Funciona. As duas Albertines se aproximam da mulher de HH, a acariciam, chupam-na gentilmente. Rapidamente, a mulher de HH tem o orgasmo mais deslumbrante da sua vida. Quando termina de gritar de prazer se vira para HH

HH chega a pensar que três mulheres com ele, uma delas sua legítima esposa, é demais.

Se houvesse outro homem, pensa – e a ideia o excita novamente.

HH deixa de pensar no imperativo categórico porque o desejo pelas mulheres, de um homem, o urge e tenta decidir qual das três irá penetrar primeiro.

Na verdade deseja as duas Albertines. Sua esposa continua em Hamburgo esperando e sua presença na orgia é apenas uma imagem utilitária de HH para afastar o Imperativo – ou um mero recurso ficcional.

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É um dia ensolarado de primavera – faz calor no trem dos prisioneiros franceses, mas não muito, especialmente quando o trem se movimenta e o ar entra com violência pelas portas abertas dos vagões. Entretanto, às vezes o trem para, para dar passagem a outras composições – prioritárias – conduzindo tropas ou mantimentos para o exército. Na verdade os prisioneiros franceses são a última das prioridades da planificação  alemã. Estão sendo conduzidos a um campo de semi concentração para ser libertados dali a alguns dias- os que não tiverem a ficha suja na polícia francesa por comunistas ou homossexuais.

Os guardas de Hans Helmut, e o próprio HH, aproveitam as detenções do trem para dar uma volta beirando os vagões e fazer de conta que possuem alguma função. Depois de algum tempo, a composição levando tropas ou comida e munições passa, e HH e seus homens voltam ao último vagão onde continuam jogando baralho.

Durante uma dessas inspeções a pé, HH passa do lado de um jovem. Gosta do seu rosto. Pergunta o nome. Escuta Pierre. O prisioneiro pergunta o nome dele. É uma impertinência, mas HH responde. Olham-se em silencio. Pierre sorri. HH também sorri. Tira um maço e convida um cigarro. Pierre aceita e acende com o isqueiro de HH. Os dois simultaneamente fazem uma careta. Pierre devolve o isqueiro. HH continua sua ronda. Pierre viaja sentado com as pernas para fora do vagão. É contra as normas, mas HH releva. Ninguém está interessado em fugir – nem em cuidar com rigidez dos prisioneiros. A França está ocupada. Os franceses se renderam quase sem lutar.

Pierre senta-se à mesa. Há salada de berinjelas, sua favorita, dois tipos de peixe cozidos e um frito, arroz fumegante e vinho branco sauvignon. Pierre estende o guardanapo de linho sobre suas pernas e coloca na boca a primeira porção de berinjelas. Que estranho, pensa, não tem gosto e imediatamente se da conta de que a comida desapareceu da sua boca, da mesa. Não tem tempo de continuar pensando porque uma explosão sacodiu o trem, os vagões freiam bruscamente e há um estrépito de apitos, gritos em alemã, lamentos em francês, latidos de cachorros grandes, vozes de mando e uma exclamação que percorre a composição – sabotagem, sabotagem. Pierre acorda bruscamente, com medo, com fome. Homens de Hans Helmut fecham as portas dos vagões que estavam abertas, outros abrem as que estavam fechadas. Como dirá Sartre, agora que a guerra acabou é a guerra. Do vagão de Pierre, os soldados alemães extraem um grupo de cinco prisioneiros – para queimar eles vivos como na frente oriental após 1941? Para fuzilar?

Pierre pensa, tenho que fugir. Os guardas acabaram de abrir as portas. Ele pensa que sempre teve a sorte do seu lado. Pula e sai correndo em zigue-zague. Escuta as armas sendo preparadas e se joga numa valeta, A primeira rajada dos fuzis não o alcança. Desde a valeta observa primeiro as sombras e depois as silhuetas dos guardas de HH. Um deles se aproximou, aponta uma metralhadora e diz umas palavras incompreensíveis em alemão. Chegam mais soldados alemães. Pierre é arrancado bruscamente da valeta. A prisão, a tortura e provavelmente a morte nas mãos de Gestapo é o que o espera. Desde dentro de uma sombra HH ordena atirar. O soldado da metralhadora atira. Pierre sente as perfurações das balas. Seu corpo explode por dentro e depois a escuridão é total.

O Maquinista de Cordisburgo

Trilhos invisíveis alçam-me ao cimo, serpenteando a rosca do Morro.

Do alto, vejo e acompanho. Posso intuir, dispor, variar. Não invento nada. Apenas que, na longitude, a clarividência aflora e preside. Lá embaixo, nas vastas gerais planuras, até onde a vista alcança e para além, as cenas daquelas miniaturas sucedem-se incontroláveis, cruzáveis, enredáveis, inexoráveis. Se interfiro, como ás, é no restrito das intenções, sem esbarrar nas todas as linhas que o destino fia e porfia. Esquadrinho as veredas, mapeio as encruzilhadas, conto os tropéis, prescruto os pensamentos, ouço os gritos, o arfar dos corpos de cabeças suadas com bocas sedentas, as pulsações. Ali, a consigna da vingança pesando hereditária ou legatária desde roídos tempos, sobre seus desafortunados contemplados, longo distantes da vetusta ira. Aqui, sorrateiros, os finíssimos grão-amores de rotos jagunços descendo a ampulheta de tempo expedito.

Lá de Cordis, um menino sentado à porta da venda, em frente à estação, me acena, só ele me vê. E me aprova. Esse aceno me abençoa e me inspira.

Aquele mulherio rindo em cascatas, que ressoa até aqui, todas deitam-se com os rudes destas terras e as tenho, só por isso, como insuperáveis. Uma Miss, as brejeiras, virgens, velhas, moças, sonhadoras, enrugadas, beatas, curandeiras, benzedeiras, rezadoras, cortejadas, amadas, sonhadas, temidas, ocupam um ponto nodal.

A doideira que se espraia por estas matas não deixa espaço para nóveis acréscimos. Santos doidos peregrinos, de noites-dias, dormindo em grutas de pedra, em vestes de saco, falando coisa com nada, trocadilhos ao contrário, que convenho considerar, sempre.

Se fecho os olhos, continuo vendo as boiadas e repouso a vista no velho burrinho pedrês, condutor pródigo dos tempos, no falatório do gado, no azáfama das fazendas, nas preces, choros, castigos, promessas. Todos os acontecimentos, até o final, tropeçarão nas dúvidas, indolências, oportunismos, ambivalências, inconclusões, que circundam incessantes este Olimpo vago de deuses, envolvendo a tudo, numa névoa invisível que nunca se dissipará.

Outra vez, agora, a um brusco movimento meu neste promontório, um bando de pássaros põe-se em vôo descendente até as copas das muitas belas árvores, iniciando o tráfego interarboreal, cruzando, travessão, num átimo, o campo de visão de todos, ou deles pousando ao lado, coadjuvando cenários, inspirando quisquilhas.

Diferentes as águas. Correm, escorrem, limpas, turvas, voluptuosas, mansas, a seu bel prazer, em moto perpétuo. Eis todos os rios que daqui vejo como feixes brilhantes e margearão estórias.

Ah Sertão, essa metonímica locomotiva que me conduz!                                                                                          ∞